Gestão de Portfólio – Parte 1: Política de Alocação

Política de alocação foi como eu chamei a forma de dividir os diferentes ativos (investimentos) que compõem o patrimônio, de acordo com um determinado critério.

Na política de alocação, eu defino no QUE investir.

Imagem com pilhas de moedas como se fossem plantas em ordem crescente de tamanho.

Conceitos iniciais

Vamos começar com algumas definições iniciais. Estas definições são minhas e foram os nomes que eu dei para cada conceito. Os livros teóricos e profissionais da área de Finanças podem dar o mesmo nome ou ainda outro termo, eu decidi usar estes.

Gestão de Portfólio

No meu caso, como critério para efetuar a alocação de ativos, eu utilizei a divisão que aprendi em meu curso de Administração de Empresas, nas trilhas de gestão financeira, em que o gestor deve dividir os ativos de uma empresa baseados em sua Liquidez, Segurança e Rentabilidade.

Trouxe este conceito para a administração de meus investimentos pessoais.

Liquidez

São aqueles ativos que podem ser utilizados imediatamente, em imprevistos ou casos de emergência.

Liquidez significa que estes ativos são líquidos, ou é dinheiro mesmo, ou podem ser facilmente convertidos em dinheiro, de forma imediata ou quase.

Geralmente, não possuem rendimento ou se possuem, são juros muito reduzidos, inclusive podendo perder da inflação.

O importante não é rendimento, mas sim a imediata disponibilidade. Ex.: dinheiro, saldo em contas corrente e poupança.

Segurança

São ativos cujo risco é muito baixo. Como o risco é muito baixo, normalmente o retorno também o é. Dependendo do tipo de ativo, estes podem ter um retorno variável, até negativo, mas costumam ser sempre lembrados em momentos de crise.

Também é mais difícil sair deste tipo de ativo, comparado com os ativos líquidos do item anterior.

Sua importância é a proteção de um patrimônio já adquirido. No caso de uma crise de qualquer tipo, os ativos seguros são a segunda linha de defesa do patrimônio (os ativos líquidos são os primeiros).

Além disto, servem também como economia para realizar algum objetivo e/ou sonho no futuro (viagem, compra de um carro ou imóvel, curso, etc.).

Ex.: títulos do tesouro nacional, certificados de depósito bancário (CDB), fundos de renda fixa (que investem em títulos do tesouro), ouro, dólar e imóveis.

Existem outros, mas os citados são os mais comuns.

Rentabilidade

São os investimentos cujo risco é maior, mas que proporcionam um retorno maior também. Em termos de investimento, é deste grupo que virá o crescimento do patrimônio, pois possuem rendimento maior.

Normalmente, são de renda variável. Só devem ser alocados neste grupo aquele dinheiro que não tem previsão de gasto e pode eventualmente ser perdido (inclusive perda total ou maior que o total, em alguns casos).

Ex.: ações, fundos de ações, fundos multimercado, fundos imobiliários, negócio próprio (empreendedorismo), etc.

Perfil do investidor

É muito difícil para uma pessoa opinar como deve investir outra pessoa, por diversos motivos. Podemos enumerá-los a seguir, os motivos não estão em ordem de importância, todos eles devem ser considerados:

  • idade da pessoa (um jovem pode se arriscar mais);
  • situação familiar (diferentes famílias tem diferentes perfis de consumo);
  • gostos pessoais (valores, prioridades, necessidade de demonstrar status, etc.);
  • perfil para assumir riscos;

Existem pessoas que não podem ver o investimento ter uma perda de 1%.

Estas pessoas não deveriam investir em renda variável (veja o item “Rentabilidade” acima).

Não há nada errado em não aceitar perdas. Se este for seu caso, procure investimentos possuam chance reduzida de perda (sempre existirá algum risco de perda, mesmo em investimentos considerados muito seguros).

Negócio próprio também é algo muito pessoal. Abrir e administrar uma empresa não é uma tarefa fácil e não são todas as pessoas que possuem este perfil.

Também não há nada errado nisto. Se este for seu caso, procure trilhar uma carreira profissional que não dependa do empreendedorismo.

Conhecimento

Este item é importantíssimo! Só invista em algo que conhece. Antes de investir em algo, estude, estude e estude!

Se quiser aprender algo fazendo, pode até fazê-lo, mas comece com um valor muito pequeno, que você possa perder ao errar, pois você irá errar!

E jamais invista em algo que não conhece porque alguém lhe mostrou uma “oportunidade” de grandes retornos. Não deixe a ganância te dominar!

Se está lendo este post sem ter estudo, recomendo que volte para o
Roteiro de Educação Financeira.

Como eu costumo fazer

Como foi dito em “Perfil do investidor”, não é proposta deste blog efetuar a gestão do portfólio de investimentos do leitor, mas sim, explicar alguns conceitos, exemplificando um método que deu certo para o autor – não se trata de conselho de investimento nem tem garantia que vai funcionar para você, mas a linha de raciocínio pode ser adaptada.

Política de Alocação: Passo 1 – Liquidez

Liquidez: é a alocação mais importante de todas, pois envolve a vida, saúde, equilíbrio emocional e financeiro de você e seus entes queridos.

É o valor para pagar suas contas e boletos. O critério que eu utilizo é em valor absoluto.

Então, se eu gasto por mês R$ 3.000 e ficar sem renda por algum motivo, os ativos líquidos são os primeiros a serem utilizados.

Cada um deve definir quanto tempo reservar, dentro de suas possibilidades.

Alguns recomentam três meses, outros seis meses. Eu me sinto tranquilo com 24 meses, pois quer dizer que posso ficar 2 anos sem renda e sem problemas.

No exemplo, deveríamos multiplicar R$ 3.000 por 3, 6 ou 24. Cada leitor deve definir primeiramente qual o tamanho de sua Liquidez.

O tamanho da Liquidez também é influenciado pelas expectativas futuras (possibilidade de desemprego, doenças na família, gastos futuros, etc.).

Feito isto, monte seus ativos de liquidez. Inicialmente, 100% em liquidez.

Deve ser o passo dois (o primeiro era quitar suas dívidas, faça isto antes de tudo). Feitos os passos um e dois, comece a pensar em Segurança e Rentabilidade.

Política de Alocação: Passo 2 – Segurança e Rentabilidade

Existem algumas regras práticas utilizadas pelos americanos (lembrando que nos Estados Unidos, a cultura de investimentos em ações é muito mais desenvolvida que no Brasil).

Basicamente, devem ser alocados em renda variável a porcentagem resultante da conta 100 (cem) menos a idade:

Um jovem com 20 anos poderia colocar 100 – 20 = 80% em renda variável. Quando ele chegar aos 40 anos, deveria ter menos: 100 – 40 = 60%. Já bem idoso, digamos 90 anos, teria somente 100 – 90 = 10%.

Lembrando que esta é apenas uma regra prática.

Antes de fazer isto, veja no item “Perfil do Investidor” acima, se você não aceita ter perdas ou, se aceita, quanto você aceita.

Rentabilidade

Existem pessoas que dizem que esta regra dos americanos é completamente imbecil e sem sentido, pois cada um tem seu perfil de investimento.

Fique à vontade para adotar ou não a regra, adaptá-la como eu explicarei a seguir ou criar uma que sirva para você.

Se eu não durmo porque meu investimento caiu 1%, eu devo ter em renda variável nada (0 %), não importa se sou jovem ou velho.

Só invista se você puder perder e, ainda assim, dormir tranquilo, pois saúde não tem preço.

Se eu perco 25% do meu patrimônio e fico totalmente tranquilo, eu posso ter 25% em renda variável, independente de minha idade.

Mas neste caso, seria prudente obedecer também a regra da idade quando esta estivesse avançada.

Posso perder 25% de meu patrimônio aos 90 anos?

Dito isto, como eu faço: utilizo uma pequena variação da regra 100 – idade.

Existem alguns sites americanos que já recomendam utilizar 110 – idade, pois a expectativa de vida tem aumentado. Utilizo este critério pelos seguintes motivos:

110 – idade = R% (porcentagem em Rentabilidade).

Pelo meu perfil, sei que aguento perder R% sem perder minha saúde.

Reforçando que meu investimento em Rentabilidade é para aumentar meu patrimônio, sem comprometimento com algum projeto futuro, fazendo com que este investimento sempre seja de longo prazo.

Segurança

O restante (na realidade o valor de minha idade em porcentagem), eu coloco em Segurança, retirando a Liquidez.

Adicionalmente, temos de considerar se você tem algum sonho ou objetivo. Normalmente, este tem um prazo e um orçamento.

Este valor deve ficar também em Segurança.

Em Rentabilidade, deve ficar somente o que não está comprometido num prazo definido.

Alocação máxima ou limite por ativo

Fico intranquilo em ter mais de 25% em um tipo de investimento, mesmo seguro (poupança ou títulos do tesouro).

Isto é pessoal, eu sou assim. Se R% em meu caso fosse 75% em renda variável (110 – 35 anos), tudo bem.

Mas para respeitar este critério adicional, eu teria de investir em pelo menos 3 ativos diferentes (no máximo 25% em cada um).

Na realidade, minha carteira de renda variável tem um número muito maior de itens do que apenas três.

Política de Alocação – Resumo

Sobre alocação então, podemos fazer o seguinte resumo:

  1. Defina o montante em Liquidez a ser usado em emergências ou imprevistos.
  2. Defina os percentuais de Rentabilidade e Segurança para você.
  3. Só depois dos passos 1 e 2 resolvidos (sua Política de Alocação), aporte somente dinheiro novo em Segurança e Rentabilidade, de preferência em movimentos lentos, para fugir das variações de preços (volatilidade).

Este tema Gestão de Portfólio está dividido em três partes:

  1. Gestão de Portfólio – Parte 1: Política de Alocação – EM QUE investir.
  2. Gestão de Portfólio – Parte 2: Política de Distribuição – ONDE guardar.
  3. Gestão de Portfólio – Parte 3: Política de Movimentação – COMO mover.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Translate »