Neste post, vou falar da Berkshire Hathaway, a empresa de Warren Buffett, que possui a maior alocação em minha carteira de investimentos.
No sábado, 02/05/2020, ocorreu em Omaha, Nebraska, a reunião anual dos acionistas da Berkshire Hathaway (os berkies).
Bem, na verdade, devido ao coronavírus, não houve um evento presencial, mas uma live, transmitida a partir do ginásio da cidade, sem a presença das pessoas como costumava ocorrer nos anos anteriores.
Conforme o ranking dos bilionários da Forbes, Warren Buffett era, na data da reunião, o 5.º. homem mais rico do planeta, com uma fortuna estimada em US$ 72 bilhões.
Este patrimônio vem de sua participação acionária na holding Berkshire Hathaway, empresa por ele adquirida, que possui negócios em inúmeros setores da economia americana.
Alocação da Berkshire Hathaway
Segundo minha política de alocação, determinei para minha carteira o limite máximo por ativo de 25%. Este é o limite máximo, não é alocação mínima.
Na verdade, procuro me manter o máximo possível distante deste limite.
Em se tratando de um investimento arriscado como ações, eu creio que uma participação de 1 a 2% em cada ação proporciona uma boa diversificação.
Não quer dizer que devemos comprar qualquer empresa somente por estar diversificado.
Devemos estudar e avaliar cuidadosamente cada investimento antes da decisão de compra e também cautelosamente sair, se cometemos algum erro ou se a situação da empresa mudou.
Dito isto, o motivo deste post, falando somente da Berkshire Hathaway, é porque dentre todos os ativos, é a que tem a maior participação na carteira (quase 10%), abaixo do limite de 25%, porém bem acima dos 1 a 2% mencionados no parágrafo anterior.
Porque Berkshire Hathaway
A Berkshire Hathaway cumpre a maioria dos critérios de exigência necessários para eu investir, os quais são:
- governança corporativa: além da própria competência de Warren Buffett e seu sócio Charles Munger, eles normalmente não interferem na direção da empresa adquirida, pois a analisaram cuidadosamente antes da aquisição e confiam no corpo diretivo da empresa, sempre a apoiando;
- empresa tradicional com uma longa história;
- faturamentos crescentes ao longo do tempo;
- histórico de lucros constantes;
- endividamento dentro dos limites aceitáveis.
Não é critério para mim o retorno nas ações, mas atendo-se aos critérios acima, o preço das ações, fatalmente no longo prazo, tem um crescimento consistente também, consequência do fato de ser uma boa empresa.
Apesar da grande participação da Berkshire na carteira, minha análise dela é anual, consistindo de:
- leitura da carta aos acionistas;
- estudo das demonstrações financeiras;
- e desde o ano passado, assisto à transmissão do encontro dos acionistas.
O encontro dos acionistas em Omaha
Todos os anos, aproximadamente em maio, ocorre este encontro na cidade de Omaha, em Nebraska, onde fica a sede da Berkshire Hathaway.
É um grande evento na cidade, com uma programação extensa de um final de semana, onde os acionistas são convidados a participarem de promoções especiais, envolvendo comprar das muitas empresas do grupo.
A reunião dos acionistas, com uma seção de perguntas e respostas de Buffett e Munger, é apenas uma parte do evento, embora seja a mais importante.
E é uma oportunidade de acompanhar os insights destes administradores, que já viveram muitos acontecimentos e sempre costumam ter uma visão muito positiva e perspicaz de todo e qualquer cenário, inclusive o atual, com a enorme crise sanitária e econômica causada pelo coronavírus.
Já não é de hoje a preocupação de muitos investidores com a avançada idade de ambos (Buffett e Munger).
Todos os anos eles têm de responder que a empresa já está preparada para a partida deles, caso ocorra e, que existem pessoas (Buffett já mencionou diversas vezes Ajit Jain e Greg Abel) em cargos-chave totalmente capazes de assumir a condução dos negócios.
Eu, particularmente, acredito muito nesta sucessão já planejada, não sendo para mim um problema.
Investindo somente em Berkshire Hathaway, estou diversificado?
Resposta curta e simples, não. Não porque ainda que seja uma holding e um colosso econômico, é uma empresa única, ou seja, possui todo o risco de negócio concentrado nesta empresa.
Agora, se formos comparar a Berkshire Hathaway com outra empresa cujo negócio envolve somente um setor (por exemplo, petrolíferas ou bancos), a diversificação setorial da Berkshire é enorme.
A imagem a seguir mostra um recorte do balanço trimestral consolidado, publicado em maio/2020, somente na parte dos ativos da empresa. Os ativos dela são divididos basicamente em duas classes.
A parte de seguros corresponde a aproximadamente 70% e a parte que não é de seguros (inclui ferrovias e transportes) corresponde aos 30% restantes.
Buffett sempre menciona em suas cartas aos acionistas uma particularidade do mundo dos seguros.
Toda seguradora tem um faturamento antecipado de suas receitas, e as saídas são sempre posteriores (pagamentos dos sinistros), mas que têm a chance de NÃO ocorrer, previsíveis com estudos atuariais.
Além disto, este dinheiro precisa ser administrado com o máximo de cuidado até o momento de ser utilizado.
Deste enorme montante (correspondente a 70% dos ativos da holding), fazem parte o caixa de US$ 133 bilhões, que sempre é citado em reportagens, e a Berkshire não consegue utilizar este enorme caixa por não conseguir adquirir um bom negócio a um preço justo.
E além deste caixa, veja que existe uma enorme carteira de investimentos (22,1% ou US$ 180 bilhões) já investidos em inúmeras empresas (as maiores aparecem na imagem).
Note que comprando Berkshire, 7,8% dela é Apple. Obviamente, não serei dono da Apple, uma vez que não sei até quando a Berkshire terá a Apple na carteira.
Mas enquanto ela a possuir, vou me beneficiar indiretamente na Berkshire pelo sucesso da Apple. E também Bank of America, Coca-Cola, American Express e Wells Fargo.
Agora, caso você queira ser dono da Apple ou qualquer das outras empresas acima, compre diretamente.
Vale a pena mencionar que, neste último encontro dos acionistas, Buffett mencionou que a Berkshire vendeu todas as participações em empresas aéreas que possuía (ele cita Delta Airlines e Southwest Airlines na carta aos acionistas), porque eles acreditam que o setor de transporte aéreo não possui boas perspectivas para os próximos anos, devido ao coronavírus.
Como comprar Berkshire Hathaway
A Berkshire Hathaway é negociada na Bolsa de New York.
Existem duas classes de ações, BRK-A e BRK-B. A primeira nunca foi desmembrada, e atualmente custa cerca de US$ 300 mil.
A BRK-B é bem mais acessível para o pequeno investidor.
Para comprar as ações da Berkshire ou qualquer outra empresa negociada nas bolsas de New York, ou na Nasdaq, é preciso abrir uma conta numa corretora com acesso a estas bolsas, enviar os recursos e comprar. Veja o post Como investir no exterior.
Importante também, invista sempre tendo estudado o investimento com o máximo de cuidado e não porque viu ou leu na Internet, é um disclaimer aqui do blog.
Saiba sempre o que está fazendo, nunca siga “dicas”.
Berkshire Hathaway: Conclusão
Em termos de Berkshire Hathaway, apesar do prejuízo de quase US$ 50 bilhões que eles tiveram neste primeiro trimestre de 2020 devido ao coronavírus, é importante notar que grande parte deste prejuízo é contábil, devido à desvalorização da carteira de investimentos – os 22,1% citados no tópico “Investindo somente em Berkshire Hathaway, estou diversificado?”.
Eles são obrigados a contabilizar este prejuízo, devido às exigências legais.
Os negócios da empresa tem perspectivas de queda com a crise econômica, mas todo negócio próprio, seja uma grande companhia ou o comércio da esquina, tem seus altos e baixos.
E nesta séria crise, certamente a Berkshire Hathaway está mais preparada do que outras companhias e, acredito que sairá desta crise com menos sofrimento que as menos preparadas.
Lembrando que já houve literalmente um furacão (os prejuízos do Katrina, em New Orleans) pelo qual as seguradoras do grupo já passaram e a empresa esta aí, firme e forte.
De minha parte, volto a ver esta empresa somente na carta e no encontro de acionistas de 2021, da mesma forma que Buffett se despediu dos acionistas, dizendo “nos encontramos no ano que vem”.